sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Pronto ou não, lá vamos nós!


RESUMO

Nós professores ajudamos a formar para o mercado de trabalho uma mão de obra qualificada, que tenha conhecimentos suficientes para exercerem suas ocupações, mas, será que é somente isso o que importa?Este ensaio trata sobre o questionamento que o educador se faz quando percebe que necessita de uma prática reflexiva em sala de aula, daí surge dúvidas quanto ao que se fazer. É um texto ideológico com embasamentos teóricos e  que faz a diferenciação entre formação contínua e formação continuada, passa por níveis de formação profissional do professorado e almeja ao menos ser enfático quanto ao ideal  de educação do plano de epistemologia construtivista de Piaget, não tratando exclusivamente dela, bem pelo contrário, chegando à  conclusão que ela é um caminho para tal reflexão plena em sala de aula.


Palavras-chave: Formação Profissional. Formação Contínua. Formação Continuada.


1 INTRODUÇÃO


Em uma conversa totalmente informal a caminho da Feira do Livro de Porto Alegre, com um grande amigo e filósofo Levy Oliveira, comentei que teria que escrever um trabalho científico, tendo como tema principal a “formação continuada do educador”, e, fui indagado pelo mesmo. Ele questionou-me sobre o que seria necessariamente, na prática, tal formação? Qual a diferença, entre formação continuada e formação contínua do professorado? Se, teria alguma ligação, entre os conceitos de pesquisador stricto sensu e o pesquisador lato sensu? Ser pesquisador, em qualquer sentido, pode conceituar tal aprimoramento?

Responder tais indagações será meu objetivo principal, mas, contextualizarei e problematizarei tais dúvidas ou minimamente esforçar-me-ei ao máximo para atingir o objetivo almejado.

Partindo do pressuposto que todo professor tem o dever, de ser um eterno curioso e “insatisfeito”, significando, não um ressentimento, e sim uma visão de um ser sempre inacabado, em eterno desenvolvimento e aperfeiçoamento, apesar de algumas habilidades cognitivas já desenvolvidas, buscando sempre sair da zona de conforto, esta “insatisfação” o motivará para nunca estagnar, assim como o educando, o educador tem que compreender-se como um sujeito epistêmico; sujeito que constrói o conhecimento.

Para iniciar, sinto a necessidade de falar sobre as etapas da formação de um educador, desde o inicio de sua educação profissional, explicar quais são os níveis de formação formal que devem ser atingidos para estar “apto” a assumir uma classe escolar, conseqüentemente, não farei maiores  considerações a sua educação básica.

Assim, a partir de uma prática simulada começarei a expor a formação inicial de um professor, comentarei o perfil esperado do profissional, a importância efetiva da eterna atualização e a responsabilidade no pacto firmado no momento da escolha da profissão: Educador.


2 FORMAÇÃO INICIAL


Como o nome já diz, é o início da formação do educador, sendo de nível superior como a Graduação de Nível Superior na modalidade (Licenciatura). Segue texto extraído de decreto do Congresso Nacional e sancionado pelo ainda então Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva:

[...] Parágrafo único.  A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como fundamentos:
I – a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho;
II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço;
III – o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades. (Lei 12.014, 2009)

Creio que seja unânime a perspectiva, que tal formação, é o mínimo esperado, de um profissional da área da educação. Dado que ela não garante efetivamente uma docência plena, mas, confiaria a uma pessoa, a responsabilidade de formar cidadãos ativos em sua cidadania, sem a garantia que ao menos uma mínima parcela de conhecimentos didáticos e metodológicos a embasassem.

Fernando Becker (2010, p. 12), almejando sistematizar a necessidade de produções acadêmicas dos educadores de sala de aula, definiu o professor como sendo:

[...] alguém que elabora planos de atividades, aplica metodologias, reproduz conteúdos, interpreta esses conteúdos, observa comportamentos e avalia processos. Assim como o cientista no laboratório, ele inventa e implementa ações que produzem novos fenômenos cognitivos, avalia os fenômenos observados, cria novas compreensões desses fenômenos. Ele põe a prova conhecimentos existentes. [...]


Está etapa da formação é fundamental ao meu entender, pois, disponibiliza uma visão geral do professorado, que dará um suporte conciso e vigoroso para a práxis educacional do profissional no futuro.

Entendo que um graduado é literalmente, um pesquisador que não é especialista em uma ramificação específica do objeto de estudo, mas, devido a sua natureza pesquisadora terá sempre em vista a busca pela solução de algum “problema” metodológico ou de outro cunho profissional. Causando um estudo extremamente reflexivo em sua sala de aula, exercendo plenamente sua profissão.

[...] é evidente que os métodos serão muito diferentes se desejarmos formar uma personalidade livre ou um indivíduo submetido ao conformismo do grupo social a que ele pertence [...] distinguir aqueles que favorecem a autonomia da consciência e aqueles que conduzem ao resultado inverso [...] (Becker, 2010, p.18 apud Piaget, 1996, p.1).


2.1 FORMAÇÃO CONTÍNUA OU CONTINUADA?
           
            A formação continuada e a formação contínua do magistério são um esforço e comprometimento com a profissão. O indivíduo que gostaria de ser valorizado como profissional competente compreende que além dos objetivos em sala de aula, a profissão exige certas funções não discriminadas em seu contrato de trabalho, mas que fazem parte indispensável da ocupação. Como por exemplo, um médico estuda 6 anos em sua formação inicial e ainda tem mais dois anos de residência, ou o advogado que mesmo estudando 5 anos tem que preparar-se para uma segunda espécie de concurso vestibular correndo o risco de reprovação e assim não conseguindo exercer plenamente sua função (OAB). Assim, como a medicina ou o direto tem pré-requisitos de formação ou avaliação, o magistério tem  a formação continuada e contínua como fundamentais e indispensáveis para a ocupação, visando um aprimoramento permanente devido à responsabilidade gigantesca que o educador é exposto diariamente com seu educando.

            Esta ocupação tem um dever  profissional e vocacional, onde tais requisitos caminham juntos apoiando-se entre si, saciando a cerca do possível, deficiências existentes. Nós educadores temos que transpor tal obstáculo para que, certos déficits cognitivos de nossa parte, sejam superados a partir do conhecimento que é gerado por pesquisas sérias e comprometidos efetivamente com o desenvolvimento cognitivo e afetivo do educando. Não sou ingênuo ao ponto de acreditar que sanaremos todas as nossas deficiências um dia, mas estaremos em constante e permanente evolução.

            Acredito que, as formações contínuas e continuadas, ambas têm os objetivos que visam o aprimoramento e atualização do educador, mas, são diferentes onde a primeira nos dá idéia que é  informal, pode ser infinita e de sentido amplo se desejado e a segunda nos dá por sua vez a idéia de finito, de sentido estrito e formal. A formação contínua tem um grande diferencial, que creio ser fundamental, que é realmente o constante aproveitamento pleno de todas as interações sociais do indivíduo, ou seja, entendo-a como formação de hipóteses de todas as experiências vividas. Uma também completa a outra, caminham juntas e de mãos dadas em direção ao aperfeiçoamento e problematizando sempre “convicções” educacionais, pré-estabelecidas, que devem sempre sofrer mutações constantemente, embasadas que a sociedade esta sempre reformulando valores e prioridades, “uma criança não é igual a outra”, como diz minha professora Viviane Roncato.

            Um ótimo exemplo de aperfeiçoamento profissional foi uma melhor aceitação do professorado e implantação em algumas instituições de ensino à proposta democrática de educação, onde gerou um grande equívoco por parte dos educandos, segundo Werneck (1996, p. 29):

 “[...] Os alunos, diante de novas propostas, logo imaginam ser a democracia um regime capaz de banir, em princípio, a obrigatoriedade de assistência as aulas. Se houve em passado recente uma imposição, não será o escancaramento das portas com pintura de irresponsabilidade a marca de uma reforma do tempo. [...]”

            E tal postura por parte do magistério, somente deu-se por uma análise criteriosa, de entender que democracia não é anarquia ou libertinagem e sim um consenso de ideias contrárias, liberdade de expressão, igualdade social e voz ativa do indivíduo na tomada de decisões.

            A formação continuada tem um perfil formal, pesquisas de stricto sensu (sentido estrito) ou lato sensu (sentido amplo), com a primeira sendo representada por mestrados, doutorados, pós-doutorados e a segunda por pós-graduações como cursos de especialização ou cursos de extensão de nível superior, também temos esta formação continuada em encontros acadêmicos, como seminários, fóruns, colóquios, reuniões pedagógicas e etc...  Todo aquele estudo direcionado para uma ramificação específica do objeto de estudo, eu considero-a, como formação continuada, pois, ela segue uma metodologia Cartesiana, sendo intenciolizada sempre e sendo comprovada a partir de certificados ou diplomas de participação. Tem um caráter finito.

            Já, a formação contínua tem um perfil informal, caracterizado pelo interesse do professor, não visando um diploma ou certificado e, sim, aquele que visa tornar-se cada vez mais proficiente em sua plenitude na sua busca por uma evolução. Ela está presente em todos os momentos, na leitura de um livro, jornal ou revista, ao assistir televisão, em uma conversa despretensiosa. Não precisa, necessariamente, ser direcionada ou intencionalizada para o objeto de estudo, podendo correr o risco de ser tratada como conhecimentos gerais por ter este sentido amplo de pesquisa, mas, sendo somente e não menos importante, uma análise crítica a partir de seus preceitos culturais. O diferencial deste estudo é absorver sem preconceito todas as ideias expostas em qualquer tipo de interação social, internaliza-las, para uma análise mais minuciosa, posteriormente, externaliza-las, com hipóteses já formadas e solidificadas.

            Se pararmos para analisá-las perceberemos que ambas tem um único objetivo, que seria aperfeiçoamento profissional e pessoal, então entenderemos que elas trabalham juntas e nunca poderiam ser separadas, não no sentido de caracterizá-las como foi proposto anteriormente, mas sim, de individualiza-las no processo permanente de aperfeiçoamento, pois, somente com uma análise criteriosa formularemos hipóteses perante algo, ou seja, somente será possível o aproveitamento pleno da formação continuada se a formação contínua estiver introduzida no processo. Podem me perguntar por que tentar diferenciar formação continuada de formação contínua, neste exato momento me aproprio de uma expressão muito marcante que Jean Piaget utilizava em muitas palestras  a respeito de quem quer explicar aquilo que já sabe: “on sait déjà, mais il faut en trouver les raisons”, traduzido literalmente para nosso português será: “nós já sabemos, mas temos que encontrar as razões”.

A psicologia nas décadas de 1930 a 1950 e o percurso intelectual de Piaget e Wallon. – ‘Si rupture il y a à l'époque, elle doit plutôt être attribuée à l'impact de la conception évolutionniste sur la psychologie. D'une part, en effaet, la proclamation darwinienne de l'animalité de l'homme (postulat d'ascendance commune) et la définition de la seule contingence comme moteur de l'évolution devait conduirela psychologie sur la voie de la radicalisation de la thèse empiriste et l'orienter vers le behaviorisme. Certes, on s'est plu à voir en Darwin le fondateur de la psychologie comparée ou même encore celui de la psychologie de l'enfant mais c'est surtout la psychologie du comportement, le beahaviorisme, qui s'est nourrie du darwinisme en transposant le mécanisme darwinien de l'évolution des espèces au niveau de l'évolution des comportements chez un individu: l'environnement sélectionne les comportements comme il sélectionne les phénotypes. Cette perspective a connu les succès que l'on sait.’ (Debate Piaget e Wallon – Contextualização Geral das Controvérsias: Cap. 1,  p. 33 a 51 - Mengal, 1988: 488)


            Piaget intencionava promover o debate, a discórdia, a controvérsia, no sentido de que a discussão fosse proveitosa para o aprendizado e para se chegar ao um denominador comum.

2. 1. 1 Análise da prática simulada

            Propusemos  uma dinâmica de pergunta e resposta, foi avaliada a idéia que a nova geração de educadores faz quanto ao aperfeiçoamento permanente do professorado, tentei observar se tal requisito realmente seria colocado em prática de sala de aula.

            Escutei vários relatos sobre formações continuadas mensais, onde coordenadores pedagógicos, não atualizavam sua equipe, mas sim, somente teriam uma reunião administrativa, onde abordam temas financeiros e estruturais da instituição de ensino. Isto me deixou muitíssimo preocupado com o futuro brasileiro, pois, os responsáveis e digamos “melhores preparados” para a eterna formação, sem querer generalizar, não teriam preparo e tão menos engajamento com o ideal pedagógico normativo de nossa profissão?

            Também, recebi respostas que vieram se contrapondo com as anteriores e fiquei muito surpreso com certos colegas professores. Pois, mesmo com a desmotivação e desvalorização em que o magistério passa no momento, escutei argumentos realmente esperançosos, ideológicos e quem sabe funcionais, estou extremamente feliz por perceber que esta utopia momentânea devido à realidade atual, tem os dias contados. A nova visão que é passada em cursos de formação inicial do professorado tem um caráter explicitamente adequado à nova visão revolucionária da área da educação.

            Realmente, sei que é difícil uma eterna caminhada, mas a desmotivação não pode nublar a paisagem de nossos ideais, pois, estudamos, nos aplicamos e trabalhamos com o foco em formar cidadãos realmente ativos em sua cidadania e com o mesmo apelo que Werneck (1996, p. 87) encerra seu ensaio concluo esta reflexão.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreendi que a prática reflexiva em sala de aula, inicialmente proposto como tema, nos remete a questões muito mais amplas e complexas, pois, para atingir este objetivo metodológico básico da ocupação, teremos de abdicar de certos conceitos formados e de momentos de lazer, e focarmos quase que exclusivamente nossas reflexões profissionais para a práxis educacional.

Por mais que tenhamos uma concepção de aprendizagem conteudista e superficial, em pleno século XXI, não é admissível tal postura. Entretanto, não serei hipócrita em afirmar que o plano da epistemologia construtivista de Piaget é aplicado plenamente nas instituições de ensino do território nacional.

Com este ensaio acredito ter conseguido somar e aprender certas questões pertinentes em relação ao nosso cunho profissional, embasado em experiências próprias e de colegas. Acredito ter motivado a pesquisa, plantando uma sementinha de curiosidade em cada leitor deste trabalho acadêmico e se render frutos futuros, sentir-me-ei pleno.

Espero que compreendam que este é apenas o início do debate da matéria; não o meio e tampouco o fim. Haverá discórdias de minhas ideias, de minhas teorias. Este é o objetivo: promover o debate. Sejamos ativos em nossa profissão. Pesquisamos sempre e coloquemos em prática tal hipótese aqui formulada. Divulgamo-las para disseminar aquela sementinha... Formemos e ajudemos outros professores a formarem alunos realmente humanos.


REFERÊNCIAS


BRASIL. Ministério da Educação. Educação inclusiva: a família. ARANHA, Maria Arruda. Brasília: MEC, SEESP, 2004. 4 p.

BRASIL. Ministério da Educação. Saberes e práticas da inclusão: recomendações para a construção de escolas inclusivas. [2. ed.] / coordenação geral SEESP/MEC. – Brasília: MEC, Secretaria de Educação Especial, 2006.

PIAGET, Jean - Debate Piaget e Wallon – Contextualização Geral das Controvérsias: Cap. 1,  p. 33 a 51 - Mengal, 1988: 488).

BECKER, Fernando; Marques, Tânia B. I. Ser professor é ser pesquisador. Porto Alegre/RS: Ed. Mediação, 2010.

WERNECK, Hamilton. Se você fingi que ensina eu finjo que aprendo. Petrópolis/SP: Ed. Vozes, 1996.

QUINN, Patrícia O.; STERN, Judith M. PISANDO NO FREIO – entenda e controle o déficit de atenção e a hiperatividade. São Paulo/SP: Ed. Artmed, 2010.