RESUMO
Nós professores ajudamos a
formar para o mercado de trabalho uma mão de obra qualificada, que tenha
conhecimentos suficientes para exercerem suas ocupações, mas, será que é
somente isso o que importa?Este ensaio trata sobre o questionamento que o
educador se faz quando percebe que necessita de uma prática reflexiva em sala
de aula, daí surge dúvidas quanto ao que se fazer. É um texto ideológico com
embasamentos teóricos e que faz a
diferenciação entre formação contínua e formação continuada, passa por níveis
de formação profissional do professorado e almeja ao menos ser enfático quanto
ao ideal de educação do plano de
epistemologia construtivista de Piaget, não tratando exclusivamente dela, bem
pelo contrário, chegando à conclusão que
ela é um caminho para tal reflexão plena em sala de aula.
Palavras-chave: Formação Profissional. Formação Contínua. Formação
Continuada.
1 INTRODUÇÃO
Em uma conversa
totalmente informal a caminho da Feira do Livro de Porto Alegre, com um grande
amigo e filósofo Levy Oliveira, comentei que teria que escrever um trabalho
científico, tendo como tema principal a “formação continuada do educador”, e,
fui indagado pelo mesmo. Ele questionou-me sobre o que seria necessariamente,
na prática, tal formação? Qual a diferença, entre
formação continuada e formação contínua do professorado? Se, teria alguma
ligação, entre os conceitos de pesquisador stricto
sensu e o pesquisador lato sensu?
Ser pesquisador, em qualquer sentido, pode conceituar tal aprimoramento?
Responder tais indagações será meu objetivo principal, mas,
contextualizarei e problematizarei tais dúvidas ou minimamente esforçar-me-ei
ao máximo para atingir o objetivo almejado.
Partindo do pressuposto que todo professor tem o dever, de ser um eterno
curioso e “insatisfeito”, significando, não um ressentimento, e sim uma visão
de um ser sempre inacabado, em eterno desenvolvimento e aperfeiçoamento, apesar
de algumas habilidades cognitivas já desenvolvidas, buscando sempre sair da
zona de conforto, esta “insatisfação” o motivará para nunca estagnar, assim
como o educando, o educador tem que compreender-se como um sujeito epistêmico;
sujeito que constrói o conhecimento.
Para
iniciar, sinto a necessidade de falar sobre as etapas da formação de um
educador, desde o inicio de sua educação profissional, explicar quais são os
níveis de formação formal que devem ser atingidos para estar “apto” a assumir
uma classe escolar, conseqüentemente, não farei maiores considerações a sua educação básica.
Assim, a partir de uma prática simulada começarei a expor a formação
inicial de um professor, comentarei o perfil esperado do profissional, a
importância efetiva da eterna atualização e a responsabilidade no pacto firmado
no momento da escolha da profissão: Educador.
2 FORMAÇÃO INICIAL
Como
o nome já diz, é o início da formação do educador, sendo de nível superior como
a Graduação de Nível Superior na modalidade (Licenciatura). Segue texto
extraído de decreto do Congresso Nacional e sancionado pelo ainda então
Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva:
[...] Parágrafo único. A formação
dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do
exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e
modalidades da educação básica, terá como fundamentos:
I – a presença de sólida formação básica,
que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas
competências de trabalho;
II – a associação entre teorias e
práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço;
III – o aproveitamento da formação e
experiências anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades. (Lei
12.014, 2009)
Creio
que seja unânime a perspectiva, que tal formação, é o mínimo esperado, de um
profissional da área da educação. Dado que ela não garante efetivamente uma
docência plena, mas, confiaria a uma pessoa, a responsabilidade de formar
cidadãos ativos em sua cidadania, sem a garantia que ao menos uma mínima
parcela de conhecimentos didáticos e metodológicos a embasassem.
Fernando
Becker (2010, p. 12), almejando sistematizar a necessidade de produções
acadêmicas dos educadores de sala de aula, definiu o professor como sendo:
[...] alguém que elabora planos de atividades, aplica
metodologias, reproduz conteúdos, interpreta esses conteúdos, observa
comportamentos e avalia processos. Assim como o cientista no laboratório, ele
inventa e implementa ações que produzem novos fenômenos cognitivos, avalia os
fenômenos observados, cria novas compreensões desses fenômenos. Ele põe a prova
conhecimentos existentes. [...]
Está
etapa da formação é fundamental ao meu entender, pois, disponibiliza uma visão
geral do professorado, que dará um suporte conciso e vigoroso para a práxis educacional do profissional no
futuro.
Entendo
que um graduado é literalmente, um pesquisador que não é especialista em uma
ramificação específica do objeto de estudo, mas, devido a sua natureza
pesquisadora terá sempre em vista a busca pela solução de algum “problema”
metodológico ou de outro cunho profissional. Causando um estudo extremamente
reflexivo em sua sala de aula, exercendo plenamente sua profissão.
[...]
é evidente que os métodos serão muito diferentes se desejarmos formar uma
personalidade livre ou um indivíduo submetido ao conformismo do grupo social a
que ele pertence [...] distinguir aqueles que favorecem a autonomia da
consciência e aqueles que conduzem ao resultado inverso [...] (Becker, 2010, p.18
apud Piaget, 1996, p.1).
2.1
FORMAÇÃO CONTÍNUA OU CONTINUADA?
A formação continuada e a formação
contínua do magistério são um esforço e comprometimento com a profissão. O
indivíduo que gostaria de ser valorizado como profissional competente compreende
que além dos objetivos em sala de aula, a profissão exige certas funções não
discriminadas em seu contrato de trabalho, mas que fazem parte indispensável da
ocupação. Como por exemplo, um médico estuda 6 anos em sua formação inicial e
ainda tem mais dois anos de residência, ou o advogado que mesmo estudando 5
anos tem que preparar-se para uma segunda espécie de concurso vestibular
correndo o risco de reprovação e assim não conseguindo exercer plenamente sua
função (OAB). Assim, como a medicina ou o direto tem pré-requisitos de formação
ou avaliação, o magistério tem a
formação continuada e contínua como fundamentais e indispensáveis para a
ocupação, visando um aprimoramento permanente devido à responsabilidade gigantesca
que o educador é exposto diariamente com seu educando.
Esta ocupação tem um dever profissional e vocacional, onde tais
requisitos caminham juntos apoiando-se entre si, saciando a cerca do possível,
deficiências existentes. Nós educadores temos que transpor tal obstáculo para
que, certos déficits cognitivos de nossa parte, sejam superados a partir do
conhecimento que é gerado por pesquisas sérias e comprometidos efetivamente com
o desenvolvimento cognitivo e afetivo do educando. Não sou ingênuo ao ponto de
acreditar que sanaremos todas as nossas deficiências um dia, mas estaremos em
constante e permanente evolução.
Acredito que, as formações contínuas
e continuadas, ambas têm os objetivos que visam o aprimoramento e atualização
do educador, mas, são diferentes onde a primeira nos dá idéia que é informal, pode ser infinita e de sentido
amplo se desejado e a segunda nos dá por sua vez a idéia de finito, de sentido
estrito e formal. A formação contínua tem um grande diferencial, que creio ser
fundamental, que é realmente o constante aproveitamento pleno de todas as
interações sociais do indivíduo, ou seja, entendo-a como formação de hipóteses
de todas as experiências vividas. Uma também completa a outra, caminham juntas
e de mãos dadas em direção ao aperfeiçoamento e problematizando sempre “convicções”
educacionais, pré-estabelecidas, que devem sempre sofrer mutações
constantemente, embasadas que a sociedade esta sempre reformulando valores e
prioridades, “uma criança não é igual a outra”, como diz minha professora
Viviane Roncato.
Um ótimo exemplo de aperfeiçoamento
profissional foi uma melhor aceitação do professorado e implantação em algumas
instituições de ensino à proposta democrática de educação, onde gerou um grande
equívoco por parte dos educandos, segundo Werneck (1996, p. 29):
“[...] Os alunos, diante de novas propostas,
logo imaginam ser a democracia um regime capaz de banir, em princípio, a
obrigatoriedade de assistência as aulas. Se houve em passado recente uma
imposição, não será o escancaramento das portas com pintura de irresponsabilidade
a marca de uma reforma do tempo. [...]”
E tal postura por parte do
magistério, somente deu-se por uma análise criteriosa, de entender que
democracia não é anarquia ou libertinagem e sim um consenso de ideias
contrárias, liberdade de expressão, igualdade social e voz ativa do indivíduo
na tomada de decisões.
A formação continuada tem um perfil
formal, pesquisas de stricto sensu
(sentido estrito) ou lato sensu
(sentido amplo), com a primeira sendo representada por mestrados, doutorados, pós-doutorados
e a segunda por pós-graduações como cursos de especialização ou cursos de
extensão de nível superior, também temos esta formação continuada em encontros
acadêmicos, como seminários, fóruns, colóquios, reuniões pedagógicas e etc... Todo aquele estudo direcionado para uma
ramificação específica do objeto de estudo, eu considero-a, como formação
continuada, pois, ela segue uma metodologia Cartesiana, sendo intenciolizada
sempre e sendo comprovada a partir de certificados ou diplomas de participação.
Tem um caráter finito.
Já, a formação contínua tem um
perfil informal, caracterizado pelo interesse do professor, não visando um
diploma ou certificado e, sim, aquele que visa tornar-se cada vez mais
proficiente em sua plenitude na sua busca por uma evolução. Ela está presente
em todos os momentos, na leitura de um livro, jornal ou revista, ao assistir
televisão, em uma conversa despretensiosa. Não precisa, necessariamente, ser
direcionada ou intencionalizada para o objeto de estudo, podendo correr o risco
de ser tratada como conhecimentos gerais por ter este sentido amplo de
pesquisa, mas, sendo somente e não menos importante, uma análise crítica a
partir de seus preceitos culturais. O diferencial deste estudo é absorver sem
preconceito todas as ideias expostas em qualquer tipo de interação social,
internaliza-las, para uma análise mais minuciosa, posteriormente,
externaliza-las, com hipóteses já formadas e solidificadas.
Se pararmos para analisá-las
perceberemos que ambas tem um único objetivo, que seria aperfeiçoamento
profissional e pessoal, então entenderemos que elas trabalham juntas e nunca
poderiam ser separadas, não no sentido de caracterizá-las como foi proposto
anteriormente, mas sim, de individualiza-las no processo permanente de
aperfeiçoamento, pois, somente com uma análise criteriosa formularemos
hipóteses perante algo, ou seja, somente será possível o aproveitamento pleno
da formação continuada se a formação contínua estiver introduzida no processo.
Podem me perguntar por que tentar diferenciar formação continuada de formação
contínua, neste exato momento me aproprio de uma expressão muito marcante que
Jean Piaget utilizava em muitas palestras
a respeito de quem quer explicar aquilo que já sabe: “on sait déjà, mais il faut en trouver les
raisons”, traduzido literalmente para nosso português será: “nós já
sabemos, mas temos que encontrar as razões”.
A psicologia nas décadas de 1930 a 1950 e o percurso intelectual de Piaget
e Wallon. – ‘Si rupture il y a à
l'époque, elle doit plutôt être attribuée à l'impact de la conception
évolutionniste sur la psychologie. D'une part, en effaet, la proclamation
darwinienne de l'animalité de l'homme (postulat d'ascendance commune) et la
définition de la seule contingence comme moteur de l'évolution devait
conduirela psychologie sur la voie de la radicalisation de la thèse empiriste
et l'orienter vers le behaviorisme. Certes, on s'est plu à voir en Darwin le
fondateur de la psychologie comparée ou même encore celui de la psychologie de
l'enfant mais c'est surtout la psychologie du comportement, le beahaviorisme,
qui s'est nourrie du darwinisme en transposant le mécanisme darwinien de
l'évolution des espèces au niveau de l'évolution des comportements chez un
individu: l'environnement sélectionne les comportements comme il sélectionne
les phénotypes. Cette perspective a connu les succès que l'on sait.’ (Debate Piaget e Wallon – Contextualização
Geral das Controvérsias: Cap. 1, p.
33 a 51 - Mengal, 1988: 488)
Piaget intencionava promover o
debate, a discórdia, a controvérsia, no sentido de que a discussão fosse
proveitosa para o aprendizado e para se chegar ao um denominador comum.
2.
1. 1 Análise da prática simulada
Propusemos uma dinâmica de pergunta e resposta, foi
avaliada a idéia que a nova geração de educadores faz quanto ao aperfeiçoamento
permanente do professorado, tentei observar se tal requisito realmente seria
colocado em prática de sala de aula.
Escutei vários relatos sobre
formações continuadas mensais, onde coordenadores pedagógicos, não atualizavam
sua equipe, mas sim, somente teriam uma reunião administrativa, onde abordam
temas financeiros e estruturais da instituição de ensino. Isto me deixou
muitíssimo preocupado com o futuro brasileiro, pois, os responsáveis e digamos
“melhores preparados” para a eterna formação, sem querer generalizar, não
teriam preparo e tão menos engajamento com o ideal pedagógico normativo de
nossa profissão?
Também, recebi respostas que vieram
se contrapondo com as anteriores e fiquei muito surpreso com certos colegas
professores. Pois, mesmo com a desmotivação e desvalorização em que o
magistério passa no momento, escutei argumentos realmente esperançosos,
ideológicos e quem sabe funcionais, estou extremamente feliz por perceber que
esta utopia momentânea devido à realidade atual, tem os dias contados. A nova
visão que é passada em cursos de formação inicial do professorado tem um
caráter explicitamente adequado à nova visão revolucionária da área da
educação.
Realmente, sei que é difícil uma
eterna caminhada, mas a desmotivação não pode nublar a paisagem de nossos
ideais, pois, estudamos, nos aplicamos e trabalhamos com o foco em formar
cidadãos realmente ativos em sua cidadania e com o mesmo apelo que Werneck
(1996, p. 87) encerra seu ensaio concluo esta reflexão.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreendi que a prática
reflexiva em sala de aula, inicialmente proposto como tema, nos remete a
questões muito mais amplas e complexas, pois, para atingir este objetivo
metodológico básico da ocupação, teremos de abdicar de certos conceitos
formados e de momentos de lazer, e focarmos quase que exclusivamente nossas
reflexões profissionais para a práxis
educacional.
Por mais que tenhamos uma concepção de aprendizagem conteudista e
superficial, em pleno século XXI, não é admissível tal postura. Entretanto, não
serei hipócrita em afirmar que o plano da epistemologia construtivista de
Piaget é aplicado plenamente nas instituições de ensino do território nacional.
Com este ensaio acredito
ter conseguido somar e aprender certas questões pertinentes em relação ao nosso
cunho profissional, embasado em experiências próprias e de colegas. Acredito
ter motivado a pesquisa, plantando uma sementinha de curiosidade em cada leitor
deste trabalho acadêmico e se render frutos futuros, sentir-me-ei pleno.
Espero que compreendam
que este é apenas o início do debate da matéria; não o meio e tampouco o fim.
Haverá discórdias de minhas ideias, de minhas teorias. Este é o objetivo:
promover o debate. Sejamos ativos em nossa profissão. Pesquisamos sempre e
coloquemos em prática tal hipótese aqui formulada. Divulgamo-las para
disseminar aquela sementinha... Formemos e ajudemos outros professores a
formarem alunos realmente humanos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Educação inclusiva: a família.
ARANHA, Maria Arruda. Brasília: MEC, SEESP, 2004. 4 p.
BRASIL. Ministério da Educação. Saberes
e práticas da inclusão: recomendações para a construção de escolas inclusivas.
[2. ed.] / coordenação geral SEESP/MEC. – Brasília: MEC, Secretaria de
Educação Especial, 2006.
PIAGET, Jean - Debate Piaget e Wallon – Contextualização Geral das
Controvérsias: Cap. 1, p. 33 a 51 - Mengal, 1988: 488).
BECKER, Fernando; Marques, Tânia
B. I. Ser professor é ser pesquisador.
Porto Alegre/RS: Ed. Mediação, 2010.
WERNECK, Hamilton. Se você fingi que ensina eu finjo que
aprendo. Petrópolis/SP: Ed. Vozes, 1996.
QUINN, Patrícia O.; STERN, Judith
M. PISANDO NO FREIO – entenda e
controle o déficit de atenção e a hiperatividade. São Paulo/SP: Ed. Artmed,
2010.