RESUMO
Tenho lido sobre alfabetização
desde que entrei para curso de graduação de Licenciatura em Pedagogia, tenho
observado inúmeras práticas docentes, mas somente após, receber como tema para
elaboração deste PAPER, “inovações em salas de alfabetização da EJA”, é que
realmente fui solidificar significativamente a importância do estudo didático,
realmente comprometido em apropriação de conhecimento e não somente, para a
conquista do diploma. Através de uma prática real, basicamente sendo observação
em salas de aula da EJA e conversas, visando contextualizar as vivências e os
meios em que estão inseridos os sujeitos observados, cheguei a resultados de
certa forma desfavoráveis quanto à concepção de educação plena. Sem deixar me
abater ou tampouco desmotivar-me, visei apontar fundamentos que acredito serem
básicos para a discência dos alfabetizandos. Cheguei a conclusão novamente que na
trajetória para ser um professor, temos de nos avaliarmos diariamente,
buscarmos aperfeiçoamento constante e permanentemente e estarmos abertos a
novas opiniões. Se não estivermos dispostos a estas especificidades básicas da
ocupação devemos focar nossos esforços para outra profissão, para não sujarmos
o nome desta ocupação gratificante e maravilhosa.
Palavras-chave: EJA. Docência. Educação significativa.
1 INTRODUÇÃO
Ao receber o tema proposto para este esboço acadêmico fiquei intrigado e
de certa forma muito animado, pois, falar sobre inovações em salas de
alfabetização da EJA é uma oportunidade impar. Para iniciar meu pensamento
mesmo correndo o risco de ser repetitivo tentarei fazer uma breve abordagem
histórica da EJA e uma fundamentação utilizando-me da LDB e teóricos importantes
no meio acadêmico, mesmo assim, expondo minhas ideias.
Observei duas turmas de escolas diferentes, que por um senso ético não
citarei os nomes, tão pouco dos alfabetizadores. Tive inúmeras conversas com
colaboradores e amigos, membros do professorado ou não, tentando compreender
qual realmente é a visão quanto à educação da EJA.
Esforçar-me-ei ao máximo para contextualizar a vivência em sala de aula entre
professor e aluno, a solução de conflitos, o lidar com frustrações existentes
no processo de alfabetização, ensinar novas concepções para quem já às tem
formadas e proporcionar a aceitação na sociedade globalizada daqueles quem nem
ao menos sabem escrever o nome.
2 FUNDAMENTANDO
A EJA
2. 1 ASPECTO HISTÓRICO ATÉ A
ATUALIDADE
“Alfabetizar para a vida,
formar cidadãos que exerçam plenamente sua cidadania e pedagogia da autonomia”.
Acredito que já estamos “acostumados” a ler obras que abordam esses temas, que
imploram por uma práxis comprometida com o cunho social de nossa profissão.
Para podermos falar
sobre EJA, primeiramente, precisamos saber o que é, quando surgiu e qual era
seu objetivo principal. Os primeiros relatos sobre a educação ou alfabetização
de adultos no Brasil nos remetem a época da colonização portuguesa, por volta
de 1549; os jesuítas acreditavam que para converter os índios, seria impossível
sem que os mesmos soubessem ler e escrever; assim, alfabetizando (catequizando)
pessoas não infantis, intencionalizava-se para que servissem à Igreja e ao
trabalho.
Tal abordagem e
esquematização foi desmembrada e deixou de existir após a expulsão dos jesuítas
em meados do século XVIII, vindo novamente a ter uma breve notoriedade somente
no Brasil Imperial, referenciado na Constituição Imperial de 1824.
Com o passar do tempo
sempre víamos referências a educação em geral com objetivos diferentes. Como na
época da revolução de 1930,
a intenção do governo era somente ensinar a decodificar
e codificar, pois, se desenvolvesse a consciência crítica das camadas mais
baixas da população seria extremamente prejudicial para a política daquele
governo. Na década de 40 foi um período de grandes iniciativas governamentais
para valorização, engajamento e regulamentação da educação de adultos.
A educação de jovens e
adultos passou por algumas nomenclaturas como MOBRAL e SUPLETIVO. Mas, somente
em 1996 que a alfabetização e escolarização de jovens e adultos foram reconhecidas
como modalidade de ensino e no ano de 2000 é que foram traçadas as diretrizes
curriculares nacionais da EJA. A constituição federal de 1988 determina que: “a
educação é direito de todos e dever do estado e da família[...]”. Seguindo este
princípio elaborou-se a Lei n.º 5.692/71
que altera o termo de ensino supletivo para “educação de jovens e adultos” que
ampara a LDB (Lei de Diretrizes e Base) sob n.º 9394 de dezembro de 1996, no
título V, capítulo II, seção V, constando dois artigos específicos para a EJA:
Art.37- A educação de jovens e adultos
seu destinado aqueles que não tiveram acesso em continuidade de estudo no
ensino fundamental e médio na idade própria.
Inciso 1° Os sistemas de ensino
assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os
estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas
as características do alunado, seus interesses, condições de vida e trabalho,
mediante cursos e exames.
Inciso 2° O poder publico viabilizará e
estimulará o acesso à permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas
e complementares entre si.
Art. 38- Os sistemas de ensino manterão cursos
e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo,
habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular.
Inciso1° Os exames a que se refere este
artigo realizar-se-ão: no nível de inclusão do ensino fundamental, para os
níveis de quinze anos.
II. No nível de conclusão do ensino
médio, para os maiores de dezoito anos.
Inciso 2° Os conhecimentos e habilidades
adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos
mediante exames. (BRASIL. MEC, 2008).
2.2 DO OBJETIVO ATUAL
Hoje
em dia, mais do que nunca a EJA destina-se a inclusão escolar de jovens e
adultos que não tiveram acesso ou continuidade à educação básica, na idade
própria. É compreendida como o processo de alfabetização, cursos ou exames supletivos
nas etapas fundamentais e médias. Considerada mais que um direito: é a chave
para o século XXI, por ser consequência do exercício da cidadania e condição
para a participação plena na sociedade, incluindo a qualificação e
requalificação profissional. Erradicação do analfabetismo como meta durante o
mandato do então presidente LULA.
2. 2. 1 Evolução dos índices de analfabetismo
no Brasil
Brasil: Evolução do analfabetismo
entre pessoas de 15 anos ou mais – 1920/2006
Ano/Censo
|
Total
|
Analfabetos
|
%
|
1920
|
17.557.282
|
11.401.715
|
64,90
|
1940
|
23.709.769
|
13.269.381
|
56,00
|
1960
|
40.278.620
|
15.964.852
|
39,60
|
1980
|
73.541.943
|
18.716.847
|
25,50
|
2000
|
119.556.675
|
16.294.889
|
13,63
|
2006
|
138.584.000
|
14.391.000
|
10,38
|
Fonte: IBGE. Censos Demográficos e Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios 2006.
Seu
objetivo principal é a inclusão escolar de um público que, por motivos diversos,
foi excluído do ambiente escolar ou da educação, no transcorrer de sua infância
ou adolescência. Isso devido à falta de vagas na rede pública de ensino,
inadequações do sistema de ensino e pelas condições socioeconômicas
desfavoráveis, dentre outros motivos.
2. 3 DA FORMAÇÃO E INOVAÇÕES
DOCENTES ÀS TECNOLOGIAS
Para
ser um educador da EJA tem que se ter a compreensão que os educandos não
tiveram acesso ao ensino regular na idade apropriada, porém, são sujeitos com
cultura própria, ou seja, visão de mundo já formada. É de extrema
responsabilidade do educador prover um aprendizado com base na realidade de
cada aluno, propor a apropriação de conteúdos a partir das vivências relatadas
pelos alunos.
Segundo
meu entendimento o professor deve entender que para qualquer aluno tanto da EJA
quanto da modalidade regular os conteúdos trabalhados devem fazer sentido. Realmente
ter um significado, para que ele possa agir de forma significativa na sua
realidade. Consequentemente para atingirmos tal proeficiência temos que ter uma
postura de certa forma construtivista. Apropriando-me de subtítulo de Paulo
Freire, declaro, “NÃO HÁ DOCÊNCIA SEM DISCÊNCIA”:
Devo deixar claro que, embora seja meu
interesse central considerar neste texto saberes que me parecem indispensáveis
à prática docente de educadoras ou educadores críticos, progressistas, alguns
deles são igualmente necessários a educadores conservadores. São saberes
demandados pela prática educativa em si mesma, qualquer que seja a opção
política do educador ou educadora. [...] Estou convencido, porém, é legítimo
acrescentar, da importância de uma reflexão como esta quando penso a formação
docente e a prática educativo-crítica. (FREIRE, 1996, p.21)
Não podemos ser os responsáveis ou ao menos darmos respaldos
cognitivos ou psicológicos para um engessamento do pensamento, afinal somos
epistêmicos por essência:
Entende-se
por engessamento do pensamento aquela prática de ensino que procura tolher a
liberdade do educando, e relegá-lo a uma condição de passividade, impondo-lhe
uma situação de apatia frente ao próprio saber. Engessar o pensamento é impedir
a atividade do sujeito em benefício da repetição, atribuindo-lhe uma visão
estagnada do que é certo ou errado; é a imposição do modelo estanque a ser seguido, do qual
qualquer alteração ou desvio é percebido como erro a ser corrigido. (SILVA;
BECKER, 2010, p.65)
Se realmente
estamos em um momento de desenvolvimento tecnológico acelerado e estamos
qualificando e requalificando profissionalmente nossos educandos, precisamos introduzí-los
a este meio, utilizando computadores com acesso a internet e software livres. Temos
obrigação de adquirirmos no mínimo o conhecimento de nível de usuário desses
programas e transpormos as barreiras do comodismo e da aceitação.
2.3.1 Das competências e
habilidades
Todo
o educador tem a obrigação de manter-se atualizado, isso porque, uma vez que
estamos tratando de uma área de atuação revestida de nuances históricos e
sociais, sempre sujeita às transformações e novas concepções tanto didático
quanto metodologicamente.
A
EJA tem uma necessidade maior ainda, se é que podemos comparar devido ao fato
de alunos já com uma experiência de vida e atuantes no mundo de trabalho,
gerando assim uma visão de mundo já formada.
De
uma forma universal classifico as competências como características que o
mercado de trabalho exige do professor, já as habilidades são características
pessoais, direcionadas à área da educação, que possua ou venha possuir de forma
a qualificar seu trabalho.
Competências
– formação técnica; disponibilidade; trabalho sob pressão; organização; tomadas
de decisão; e, educação permanente.
Habilidades
– boa comunicação; relacionamento interpessoal; e, administração de conflitos.
3 DESCRIÇÃO DA PRÁTICA DE OBSERVAÇÃO
Observei duas turmas de alfabetização da
EJA, em duas escolas públicas aqui de Porto Alegre, onde tive conversas
informais com os respectivos educadores que me relataram que não se tinha uma
prática de inovação metodológica, pois, não se sentiam apoiados e tão pouco
preparados para tal titularidade.
Informaram-me sobre a falta de estrutura
administrativa e financeira das instituições de ensino. Se eu garantisse não
divulgar dados que pudessem prejudicá-los no futuro, reafirmando tais relatos
anteriores, confirmo que realmente deparei-me com uma situação inaceitável para
a discência dos educandos.
Na primeira observação vi um professor
montando o planejamento em sala de aula, concentrando-se totalmente nesta ação,
esquecendo-se que estava rodeado de mentes ansiosas por conhecimento, onde
tinham que ajudar uns aos outros, pois, o educador não podia dar a atenção necessária.
Na segunda observação o professor irritava-se quando tinha que explicar
novamente, repetindo a aula anterior. Segundo meu entendimento ambos nem ao
menos tinham o perfil esperado de um educador.
O mais intrigante era não haver uma
fagulha siquer de desaprovação por parte dos educandos referente às posturas
dos professores, acredito ora por conformismo, ora, por costume a serem
submissos a opressores, que é inaceitável acreditar que seja utopia uma
docência plena em meados do século XXI.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No transcorrer da pesquisa de campo, fiquei muito indignado, com certas
constatações que fiz. Encontrei profissionais engajados somente na codificação
e decodificação, sem focar o letramento e formação de senso crítico do
educando. Somente solidificando a visão que a sociedade tem quanto a esta modalidade
escolar, uma dívida social que gerou a EJA também conhecida de “Tapa furo”.
Não posso e nem quero
acreditar que seja o que vi, a regra geral. Não sou detentor da verdade
absoluta, mas, creio com grande otimismo que há engajamento, qualificação e
responsabilidade pela grande maioria do professorado mesmo tendo o desprazer e
o azar de observar práticas que vão totalmente de encontro com minha visão
ideológica.
Mesmo correndo o risco de atestar meu radicalismo quanto à
supervalorização do professorado, afirmo que somos os responsáveis pelo futuro
educacional do Brasil. Pois, educamos e somos educados, formamos cidadãos e
somos cidadãos, consequentemente não podemos ser os responsáveis por um
engessamento do pensamento e tampouco massa de manobra para uma alienação geral que gera por consequência oprimidos.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6022: artigo em publicação periódica científica impressa:
apresentação. Rio de Janeiro/RJ, 2003.
portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf,
acesso em 20 de abril de 2012 às 14 horas.
www.ibge.gov.br/,
acesso em 20 de abril de 2012 às 16 horas.
TAFNER, Elisabeth Penzlien;
SILVA, Everaldo da. Metodologia do
Trabalho Acadêmico. Indaial/SC:
Ed. Grupo UNIASSELVI, 2008.
CHRISTENSEN, Clayton M.; HORN,
Michael B.; JOHNSON, Curtis W. Inovação
na Sala de Aula: Como a inovação disruptiva muda a forma de aprender. Porto
Alegre/RS: Ed. ARTMED, 2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes
necessários à prática docente. São Paulo/SP: Ed. PAZ E TERRA, 2008.
______Que fazer: Teoria e prática em educação popular. Petrópolis/RJ: Ed.
VOZES, 2005.
BECKER, Fernando; MARQUES, Tania
B. I. Ser professor é ser pesquisador.
Porto Alegre/RS: Ed. Mediação, 2010.
VALENTE, Nelson. Não adapte. Adote. O livro do professor:
Fundamental, médio, superior e pós-graduação, história da educação, atos legais,
didática e prática de ensino. São Paulo/SP: Ed. INTERMEDIAL, 2007.
SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A criança na faze inicial da escrita: A
alfabetização como processo discursivo. Campinas/SP: Ed. CORTEZ, 1993.
WERNECK, Hamilton. Se você finge que ensina eu finjo que aprendo. Petrópolis/RJ: Ed.
1992.