terça-feira, 29 de maio de 2012

INOVAR A BASE

RESUMO
 
Tenho lido sobre alfabetização desde que entrei para curso de graduação de Licenciatura em Pedagogia, tenho observado inúmeras práticas docentes, mas somente após, receber como tema para elaboração deste PAPER, “inovações em salas de alfabetização da EJA”, é que realmente fui solidificar significativamente a importância do estudo didático, realmente comprometido em apropriação de conhecimento e não somente, para a conquista do diploma. Através de uma prática real, basicamente sendo observação em salas de aula da EJA e conversas, visando contextualizar as vivências e os meios em que estão inseridos os sujeitos observados, cheguei a resultados de certa forma desfavoráveis quanto à concepção de educação plena. Sem deixar me abater ou tampouco desmotivar-me, visei apontar fundamentos que acredito serem básicos para a discência dos alfabetizandos. Cheguei a conclusão novamente que na trajetória para ser um professor, temos de nos avaliarmos diariamente, buscarmos aperfeiçoamento constante e permanentemente e estarmos abertos a novas opiniões. Se não estivermos dispostos a estas especificidades básicas da ocupação devemos focar nossos esforços para outra profissão, para não sujarmos o nome desta ocupação gratificante e maravilhosa. 
  
Palavras-chave: EJA. Docência. Educação significativa.
 
1 INTRODUÇÃO
 
Ao receber o tema proposto para este esboço acadêmico fiquei intrigado e de certa forma muito animado, pois, falar sobre inovações em salas de alfabetização da EJA é uma oportunidade impar. Para iniciar meu pensamento mesmo correndo o risco de ser repetitivo tentarei fazer uma breve abordagem histórica da EJA e uma fundamentação utilizando-me da LDB e teóricos importantes no meio acadêmico, mesmo assim, expondo minhas ideias.
 
Observei duas turmas de escolas diferentes, que por um senso ético não citarei os nomes, tão pouco dos alfabetizadores. Tive inúmeras conversas com colaboradores e amigos, membros do professorado ou não, tentando compreender qual realmente é a visão quanto à educação da EJA.
 
Esforçar-me-ei ao máximo para contextualizar a vivência em sala de aula entre professor e aluno, a solução de conflitos, o lidar com frustrações existentes no processo de alfabetização, ensinar novas concepções para quem já às tem formadas e proporcionar a aceitação na sociedade globalizada daqueles quem nem ao menos sabem escrever o nome.
 
 
2 FUNDAMENTANDO A EJA
 
2. 1 ASPECTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE
 
“Alfabetizar para a vida, formar cidadãos que exerçam plenamente sua cidadania e pedagogia da autonomia”. Acredito que já estamos “acostumados” a ler obras que abordam esses temas, que imploram por uma práxis comprometida com o cunho social de nossa profissão.
 
Para podermos falar sobre EJA, primeiramente, precisamos saber o que é, quando surgiu e qual era seu objetivo principal. Os primeiros relatos sobre a educação ou alfabetização de adultos no Brasil nos remetem a época da colonização portuguesa, por volta de 1549; os jesuítas acreditavam que para converter os índios, seria impossível sem que os mesmos soubessem ler e escrever; assim, alfabetizando (catequizando) pessoas não infantis, intencionalizava-se para que servissem à Igreja e ao trabalho.
 
Tal abordagem e esquematização foi desmembrada e deixou de existir após a expulsão dos jesuítas em meados do século XVIII, vindo novamente a ter uma breve notoriedade somente no Brasil Imperial, referenciado na Constituição Imperial de 1824.
 
Com o passar do tempo sempre víamos referências a educação em geral com objetivos diferentes. Como na época da revolução de 1930, a intenção do governo era somente ensinar a decodificar e codificar, pois, se desenvolvesse a consciência crítica das camadas mais baixas da população seria extremamente prejudicial para a política daquele governo. Na década de 40 foi um período de grandes iniciativas governamentais para valorização, engajamento e regulamentação da educação de adultos.
 
A educação de jovens e adultos passou por algumas nomenclaturas como MOBRAL e SUPLETIVO. Mas, somente em 1996 que a alfabetização e escolarização de jovens e adultos foram reconhecidas como modalidade de ensino e no ano de 2000 é que foram traçadas as diretrizes curriculares nacionais da EJA. A constituição federal de 1988 determina que: “a educação é direito de todos e dever do estado e da família[...]”. Seguindo este princípio elaborou-se  a Lei n.º 5.692/71 que altera o termo de ensino supletivo para “educação de jovens e adultos” que ampara a LDB (Lei de Diretrizes e Base) sob n.º 9394 de dezembro de 1996, no título V, capítulo II, seção V, constando dois artigos específicos para a EJA:
 
Art.37- A educação de jovens e adultos seu destinado aqueles que não tiveram acesso em continuidade de estudo no ensino fundamental e médio na idade própria.
Inciso 1° Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e trabalho, mediante cursos e exames.
Inciso 2° O poder publico viabilizará e estimulará o acesso à permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.
Art. 38- Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular.
Inciso1° Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: no nível de inclusão do ensino fundamental, para os níveis de quinze anos.
II. No nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos.
Inciso 2° Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames. (BRASIL. MEC, 2008).
 
 
2.2 DO OBJETIVO ATUAL
 
Hoje em dia, mais do que nunca a EJA destina-se a inclusão escolar de jovens e adultos que não tiveram acesso ou continuidade à educação básica, na idade própria. É compreendida como o processo de alfabetização, cursos ou exames supletivos nas etapas fundamentais e médias. Considerada mais que um direito: é a chave para o século XXI, por ser consequência do exercício da cidadania e condição para a participação plena na sociedade, incluindo a qualificação e requalificação profissional. Erradicação do analfabetismo como meta durante o mandato do então presidente LULA.
 
 
 2. 2. 1 Evolução dos índices de analfabetismo no Brasil
 
Brasil: Evolução do analfabetismo entre pessoas de 15 anos ou mais – 1920/2006
Ano/Censo
Total
Analfabetos
%
 
 
 
 
1920
17.557.282
11.401.715
64,90
1940
23.709.769
13.269.381
56,00
1960
40.278.620
15.964.852
39,60
1980
73.541.943
18.716.847
25,50
2000
119.556.675
16.294.889
13,63
2006
138.584.000
14.391.000
10,38
Fonte: IBGE. Censos Demográficos e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2006.
 
 
Seu objetivo principal é a inclusão escolar de um público que, por motivos diversos, foi excluído do ambiente escolar ou da educação, no transcorrer de sua infância ou adolescência. Isso devido à falta de vagas na rede pública de ensino, inadequações do sistema de ensino e pelas condições socioeconômicas desfavoráveis, dentre outros motivos.
 
 
2. 3 DA FORMAÇÃO E INOVAÇÕES DOCENTES ÀS TECNOLOGIAS
 
Para ser um educador da EJA tem que se ter a compreensão que os educandos não tiveram acesso ao ensino regular na idade apropriada, porém, são sujeitos com cultura própria, ou seja, visão de mundo já formada. É de extrema responsabilidade do educador prover um aprendizado com base na realidade de cada aluno, propor a apropriação de conteúdos a partir das vivências relatadas pelos alunos.
 
Segundo meu entendimento o professor deve entender que para qualquer aluno tanto da EJA quanto da modalidade regular os conteúdos trabalhados devem fazer sentido. Realmente ter um significado, para que ele possa agir de forma significativa na sua realidade. Consequentemente para atingirmos tal proeficiência temos que ter uma postura de certa forma construtivista. Apropriando-me de subtítulo de Paulo Freire, declaro, “NÃO HÁ DOCÊNCIA SEM DISCÊNCIA”:
 
 Devo deixar claro que, embora seja meu interesse central considerar neste texto saberes que me parecem indispensáveis à prática docente de educadoras ou educadores críticos, progressistas, alguns deles são igualmente necessários a educadores conservadores. São saberes demandados pela prática educativa em si mesma, qualquer que seja a opção política do educador ou educadora. [...] Estou convencido, porém, é legítimo acrescentar, da importância de uma reflexão como esta quando penso a formação docente e a prática educativo-crítica. (FREIRE, 1996, p.21)
 
Não podemos ser os responsáveis ou ao menos darmos respaldos cognitivos ou psicológicos para um engessamento do pensamento, afinal somos epistêmicos por essência:
 
Entende-se por engessamento do pensamento aquela prática de ensino que procura tolher a liberdade do educando, e relegá-lo a uma condição de passividade, impondo-lhe uma situação de apatia frente ao próprio saber. Engessar o pensamento é impedir a atividade do sujeito em benefício da repetição, atribuindo-lhe uma visão estagnada do que é certo ou errado; é a imposição  do modelo estanque a ser seguido, do qual qualquer alteração ou desvio é percebido como erro a ser corrigido. (SILVA; BECKER, 2010, p.65)
 
Se realmente estamos em um momento de desenvolvimento tecnológico acelerado e estamos qualificando e requalificando profissionalmente nossos educandos, precisamos introduzí-los a este meio, utilizando computadores com acesso a internet e software livres. Temos obrigação de adquirirmos no mínimo o conhecimento de nível de usuário desses programas e transpormos as barreiras do comodismo e da aceitação.
 
 
2.3.1 Das competências e habilidades
 
Todo o educador tem a obrigação de manter-se atualizado, isso porque, uma vez que estamos tratando de uma área de atuação revestida de nuances históricos e sociais, sempre sujeita às transformações e novas concepções tanto didático quanto metodologicamente.
 
A EJA tem uma necessidade maior ainda, se é que podemos comparar devido ao fato de alunos já com uma experiência de vida e atuantes no mundo de trabalho, gerando assim uma visão de mundo já formada.
 
De uma forma universal classifico as competências como características que o mercado de trabalho exige do professor, já as habilidades são características pessoais, direcionadas à área da educação, que possua ou venha possuir de forma a qualificar seu trabalho.
 
Competências – formação técnica; disponibilidade; trabalho sob pressão; organização; tomadas de decisão; e, educação permanente.
 
Habilidades – boa comunicação; relacionamento interpessoal; e, administração de conflitos.
 
 
3 DESCRIÇÃO DA PRÁTICA DE OBSERVAÇÃO
 
Observei duas turmas de alfabetização da EJA, em duas escolas públicas aqui de Porto Alegre, onde tive conversas informais com os respectivos educadores que me relataram que não se tinha uma prática de inovação metodológica, pois, não se sentiam apoiados e tão pouco preparados para tal titularidade.
 
Informaram-me sobre a falta de estrutura administrativa e financeira das instituições de ensino. Se eu garantisse não divulgar dados que pudessem prejudicá-los no futuro, reafirmando tais relatos anteriores, confirmo que realmente deparei-me com uma situação inaceitável para a discência dos educandos.
 
Na primeira observação vi um professor montando o planejamento em sala de aula, concentrando-se totalmente nesta ação, esquecendo-se que estava rodeado de mentes ansiosas por conhecimento, onde tinham que ajudar uns aos outros, pois, o educador não podia dar a atenção necessária. Na segunda observação o professor irritava-se quando tinha que explicar novamente, repetindo a aula anterior. Segundo meu entendimento ambos nem ao menos tinham o perfil esperado de um educador.
 
O mais intrigante era não haver uma fagulha siquer de desaprovação por parte dos educandos referente às posturas dos professores, acredito ora por conformismo, ora, por costume a serem submissos a opressores, que é inaceitável acreditar que seja utopia uma docência plena em meados do século XXI.
 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
No transcorrer da pesquisa de campo, fiquei muito indignado, com certas constatações que fiz. Encontrei profissionais engajados somente na codificação e decodificação, sem focar o letramento e formação de senso crítico do educando. Somente solidificando a visão que a sociedade tem quanto a esta modalidade escolar, uma dívida social que gerou a EJA também conhecida de “Tapa furo”.
 
Não posso e nem quero acreditar que seja o que vi, a regra geral. Não sou detentor da verdade absoluta, mas, creio com grande otimismo que há engajamento, qualificação e responsabilidade pela grande maioria do professorado mesmo tendo o desprazer e o azar de observar práticas que vão totalmente de encontro com minha visão ideológica.
 
Mesmo correndo o risco de atestar meu radicalismo quanto à supervalorização do professorado, afirmo que somos os responsáveis pelo futuro educacional do Brasil. Pois, educamos e somos educados, formamos cidadãos e somos cidadãos, consequentemente não podemos ser os responsáveis por um engessamento do pensamento e tampouco massa de manobra para uma alienação  geral que gera por consequência oprimidos.
 
 
REFERÊNCIAS
 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: artigo em publicação periódica científica impressa: apresentação. Rio de Janeiro/RJ, 2003.
 
 
portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf, acesso em 20 de abril de 2012 às 14 horas.
 
 
www.ibge.gov.br/, acesso em 20 de abril de 2012 às 16 horas.
 
 
TAFNER, Elisabeth Penzlien; SILVA, Everaldo da. Metodologia do Trabalho Acadêmico. Indaial/SC: Ed. Grupo UNIASSELVI, 2008.
 
 
CHRISTENSEN, Clayton M.; HORN, Michael B.; JOHNSON, Curtis W. Inovação na Sala de Aula: Como a inovação disruptiva muda a forma de aprender. Porto Alegre/RS: Ed. ARTMED, 2012.
 
 
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática docente. São Paulo/SP: Ed. PAZ E TERRA, 2008.
 
 
______Que fazer: Teoria e prática em educação popular. Petrópolis/RJ: Ed. VOZES, 2005.
 
 
BECKER, Fernando; MARQUES, Tania B. I. Ser professor é ser pesquisador. Porto Alegre/RS: Ed. Mediação, 2010.
 
 
VALENTE, Nelson. Não adapte. Adote. O livro do professor: Fundamental, médio, superior e pós-graduação, história da educação, atos legais, didática e prática de ensino. São Paulo/SP: Ed. INTERMEDIAL, 2007.
 
 
SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A criança na faze inicial da escrita: A alfabetização como processo discursivo. Campinas/SP: Ed. CORTEZ, 1993.
 
 
WERNECK, Hamilton. Se você finge que ensina eu finjo que aprendo. Petrópolis/RJ: Ed. 1992.