terça-feira, 29 de maio de 2012

INOVAR A BASE

RESUMO
 
Tenho lido sobre alfabetização desde que entrei para curso de graduação de Licenciatura em Pedagogia, tenho observado inúmeras práticas docentes, mas somente após, receber como tema para elaboração deste PAPER, “inovações em salas de alfabetização da EJA”, é que realmente fui solidificar significativamente a importância do estudo didático, realmente comprometido em apropriação de conhecimento e não somente, para a conquista do diploma. Através de uma prática real, basicamente sendo observação em salas de aula da EJA e conversas, visando contextualizar as vivências e os meios em que estão inseridos os sujeitos observados, cheguei a resultados de certa forma desfavoráveis quanto à concepção de educação plena. Sem deixar me abater ou tampouco desmotivar-me, visei apontar fundamentos que acredito serem básicos para a discência dos alfabetizandos. Cheguei a conclusão novamente que na trajetória para ser um professor, temos de nos avaliarmos diariamente, buscarmos aperfeiçoamento constante e permanentemente e estarmos abertos a novas opiniões. Se não estivermos dispostos a estas especificidades básicas da ocupação devemos focar nossos esforços para outra profissão, para não sujarmos o nome desta ocupação gratificante e maravilhosa. 
  
Palavras-chave: EJA. Docência. Educação significativa.
 
1 INTRODUÇÃO
 
Ao receber o tema proposto para este esboço acadêmico fiquei intrigado e de certa forma muito animado, pois, falar sobre inovações em salas de alfabetização da EJA é uma oportunidade impar. Para iniciar meu pensamento mesmo correndo o risco de ser repetitivo tentarei fazer uma breve abordagem histórica da EJA e uma fundamentação utilizando-me da LDB e teóricos importantes no meio acadêmico, mesmo assim, expondo minhas ideias.
 
Observei duas turmas de escolas diferentes, que por um senso ético não citarei os nomes, tão pouco dos alfabetizadores. Tive inúmeras conversas com colaboradores e amigos, membros do professorado ou não, tentando compreender qual realmente é a visão quanto à educação da EJA.
 
Esforçar-me-ei ao máximo para contextualizar a vivência em sala de aula entre professor e aluno, a solução de conflitos, o lidar com frustrações existentes no processo de alfabetização, ensinar novas concepções para quem já às tem formadas e proporcionar a aceitação na sociedade globalizada daqueles quem nem ao menos sabem escrever o nome.
 
 
2 FUNDAMENTANDO A EJA
 
2. 1 ASPECTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE
 
“Alfabetizar para a vida, formar cidadãos que exerçam plenamente sua cidadania e pedagogia da autonomia”. Acredito que já estamos “acostumados” a ler obras que abordam esses temas, que imploram por uma práxis comprometida com o cunho social de nossa profissão.
 
Para podermos falar sobre EJA, primeiramente, precisamos saber o que é, quando surgiu e qual era seu objetivo principal. Os primeiros relatos sobre a educação ou alfabetização de adultos no Brasil nos remetem a época da colonização portuguesa, por volta de 1549; os jesuítas acreditavam que para converter os índios, seria impossível sem que os mesmos soubessem ler e escrever; assim, alfabetizando (catequizando) pessoas não infantis, intencionalizava-se para que servissem à Igreja e ao trabalho.
 
Tal abordagem e esquematização foi desmembrada e deixou de existir após a expulsão dos jesuítas em meados do século XVIII, vindo novamente a ter uma breve notoriedade somente no Brasil Imperial, referenciado na Constituição Imperial de 1824.
 
Com o passar do tempo sempre víamos referências a educação em geral com objetivos diferentes. Como na época da revolução de 1930, a intenção do governo era somente ensinar a decodificar e codificar, pois, se desenvolvesse a consciência crítica das camadas mais baixas da população seria extremamente prejudicial para a política daquele governo. Na década de 40 foi um período de grandes iniciativas governamentais para valorização, engajamento e regulamentação da educação de adultos.
 
A educação de jovens e adultos passou por algumas nomenclaturas como MOBRAL e SUPLETIVO. Mas, somente em 1996 que a alfabetização e escolarização de jovens e adultos foram reconhecidas como modalidade de ensino e no ano de 2000 é que foram traçadas as diretrizes curriculares nacionais da EJA. A constituição federal de 1988 determina que: “a educação é direito de todos e dever do estado e da família[...]”. Seguindo este princípio elaborou-se  a Lei n.º 5.692/71 que altera o termo de ensino supletivo para “educação de jovens e adultos” que ampara a LDB (Lei de Diretrizes e Base) sob n.º 9394 de dezembro de 1996, no título V, capítulo II, seção V, constando dois artigos específicos para a EJA:
 
Art.37- A educação de jovens e adultos seu destinado aqueles que não tiveram acesso em continuidade de estudo no ensino fundamental e médio na idade própria.
Inciso 1° Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e trabalho, mediante cursos e exames.
Inciso 2° O poder publico viabilizará e estimulará o acesso à permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.
Art. 38- Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular.
Inciso1° Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: no nível de inclusão do ensino fundamental, para os níveis de quinze anos.
II. No nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos.
Inciso 2° Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames. (BRASIL. MEC, 2008).
 
 
2.2 DO OBJETIVO ATUAL
 
Hoje em dia, mais do que nunca a EJA destina-se a inclusão escolar de jovens e adultos que não tiveram acesso ou continuidade à educação básica, na idade própria. É compreendida como o processo de alfabetização, cursos ou exames supletivos nas etapas fundamentais e médias. Considerada mais que um direito: é a chave para o século XXI, por ser consequência do exercício da cidadania e condição para a participação plena na sociedade, incluindo a qualificação e requalificação profissional. Erradicação do analfabetismo como meta durante o mandato do então presidente LULA.
 
 
 2. 2. 1 Evolução dos índices de analfabetismo no Brasil
 
Brasil: Evolução do analfabetismo entre pessoas de 15 anos ou mais – 1920/2006
Ano/Censo
Total
Analfabetos
%
 
 
 
 
1920
17.557.282
11.401.715
64,90
1940
23.709.769
13.269.381
56,00
1960
40.278.620
15.964.852
39,60
1980
73.541.943
18.716.847
25,50
2000
119.556.675
16.294.889
13,63
2006
138.584.000
14.391.000
10,38
Fonte: IBGE. Censos Demográficos e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2006.
 
 
Seu objetivo principal é a inclusão escolar de um público que, por motivos diversos, foi excluído do ambiente escolar ou da educação, no transcorrer de sua infância ou adolescência. Isso devido à falta de vagas na rede pública de ensino, inadequações do sistema de ensino e pelas condições socioeconômicas desfavoráveis, dentre outros motivos.
 
 
2. 3 DA FORMAÇÃO E INOVAÇÕES DOCENTES ÀS TECNOLOGIAS
 
Para ser um educador da EJA tem que se ter a compreensão que os educandos não tiveram acesso ao ensino regular na idade apropriada, porém, são sujeitos com cultura própria, ou seja, visão de mundo já formada. É de extrema responsabilidade do educador prover um aprendizado com base na realidade de cada aluno, propor a apropriação de conteúdos a partir das vivências relatadas pelos alunos.
 
Segundo meu entendimento o professor deve entender que para qualquer aluno tanto da EJA quanto da modalidade regular os conteúdos trabalhados devem fazer sentido. Realmente ter um significado, para que ele possa agir de forma significativa na sua realidade. Consequentemente para atingirmos tal proeficiência temos que ter uma postura de certa forma construtivista. Apropriando-me de subtítulo de Paulo Freire, declaro, “NÃO HÁ DOCÊNCIA SEM DISCÊNCIA”:
 
 Devo deixar claro que, embora seja meu interesse central considerar neste texto saberes que me parecem indispensáveis à prática docente de educadoras ou educadores críticos, progressistas, alguns deles são igualmente necessários a educadores conservadores. São saberes demandados pela prática educativa em si mesma, qualquer que seja a opção política do educador ou educadora. [...] Estou convencido, porém, é legítimo acrescentar, da importância de uma reflexão como esta quando penso a formação docente e a prática educativo-crítica. (FREIRE, 1996, p.21)
 
Não podemos ser os responsáveis ou ao menos darmos respaldos cognitivos ou psicológicos para um engessamento do pensamento, afinal somos epistêmicos por essência:
 
Entende-se por engessamento do pensamento aquela prática de ensino que procura tolher a liberdade do educando, e relegá-lo a uma condição de passividade, impondo-lhe uma situação de apatia frente ao próprio saber. Engessar o pensamento é impedir a atividade do sujeito em benefício da repetição, atribuindo-lhe uma visão estagnada do que é certo ou errado; é a imposição  do modelo estanque a ser seguido, do qual qualquer alteração ou desvio é percebido como erro a ser corrigido. (SILVA; BECKER, 2010, p.65)
 
Se realmente estamos em um momento de desenvolvimento tecnológico acelerado e estamos qualificando e requalificando profissionalmente nossos educandos, precisamos introduzí-los a este meio, utilizando computadores com acesso a internet e software livres. Temos obrigação de adquirirmos no mínimo o conhecimento de nível de usuário desses programas e transpormos as barreiras do comodismo e da aceitação.
 
 
2.3.1 Das competências e habilidades
 
Todo o educador tem a obrigação de manter-se atualizado, isso porque, uma vez que estamos tratando de uma área de atuação revestida de nuances históricos e sociais, sempre sujeita às transformações e novas concepções tanto didático quanto metodologicamente.
 
A EJA tem uma necessidade maior ainda, se é que podemos comparar devido ao fato de alunos já com uma experiência de vida e atuantes no mundo de trabalho, gerando assim uma visão de mundo já formada.
 
De uma forma universal classifico as competências como características que o mercado de trabalho exige do professor, já as habilidades são características pessoais, direcionadas à área da educação, que possua ou venha possuir de forma a qualificar seu trabalho.
 
Competências – formação técnica; disponibilidade; trabalho sob pressão; organização; tomadas de decisão; e, educação permanente.
 
Habilidades – boa comunicação; relacionamento interpessoal; e, administração de conflitos.
 
 
3 DESCRIÇÃO DA PRÁTICA DE OBSERVAÇÃO
 
Observei duas turmas de alfabetização da EJA, em duas escolas públicas aqui de Porto Alegre, onde tive conversas informais com os respectivos educadores que me relataram que não se tinha uma prática de inovação metodológica, pois, não se sentiam apoiados e tão pouco preparados para tal titularidade.
 
Informaram-me sobre a falta de estrutura administrativa e financeira das instituições de ensino. Se eu garantisse não divulgar dados que pudessem prejudicá-los no futuro, reafirmando tais relatos anteriores, confirmo que realmente deparei-me com uma situação inaceitável para a discência dos educandos.
 
Na primeira observação vi um professor montando o planejamento em sala de aula, concentrando-se totalmente nesta ação, esquecendo-se que estava rodeado de mentes ansiosas por conhecimento, onde tinham que ajudar uns aos outros, pois, o educador não podia dar a atenção necessária. Na segunda observação o professor irritava-se quando tinha que explicar novamente, repetindo a aula anterior. Segundo meu entendimento ambos nem ao menos tinham o perfil esperado de um educador.
 
O mais intrigante era não haver uma fagulha siquer de desaprovação por parte dos educandos referente às posturas dos professores, acredito ora por conformismo, ora, por costume a serem submissos a opressores, que é inaceitável acreditar que seja utopia uma docência plena em meados do século XXI.
 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
No transcorrer da pesquisa de campo, fiquei muito indignado, com certas constatações que fiz. Encontrei profissionais engajados somente na codificação e decodificação, sem focar o letramento e formação de senso crítico do educando. Somente solidificando a visão que a sociedade tem quanto a esta modalidade escolar, uma dívida social que gerou a EJA também conhecida de “Tapa furo”.
 
Não posso e nem quero acreditar que seja o que vi, a regra geral. Não sou detentor da verdade absoluta, mas, creio com grande otimismo que há engajamento, qualificação e responsabilidade pela grande maioria do professorado mesmo tendo o desprazer e o azar de observar práticas que vão totalmente de encontro com minha visão ideológica.
 
Mesmo correndo o risco de atestar meu radicalismo quanto à supervalorização do professorado, afirmo que somos os responsáveis pelo futuro educacional do Brasil. Pois, educamos e somos educados, formamos cidadãos e somos cidadãos, consequentemente não podemos ser os responsáveis por um engessamento do pensamento e tampouco massa de manobra para uma alienação  geral que gera por consequência oprimidos.
 
 
REFERÊNCIAS
 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: artigo em publicação periódica científica impressa: apresentação. Rio de Janeiro/RJ, 2003.
 
 
portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf, acesso em 20 de abril de 2012 às 14 horas.
 
 
www.ibge.gov.br/, acesso em 20 de abril de 2012 às 16 horas.
 
 
TAFNER, Elisabeth Penzlien; SILVA, Everaldo da. Metodologia do Trabalho Acadêmico. Indaial/SC: Ed. Grupo UNIASSELVI, 2008.
 
 
CHRISTENSEN, Clayton M.; HORN, Michael B.; JOHNSON, Curtis W. Inovação na Sala de Aula: Como a inovação disruptiva muda a forma de aprender. Porto Alegre/RS: Ed. ARTMED, 2012.
 
 
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática docente. São Paulo/SP: Ed. PAZ E TERRA, 2008.
 
 
______Que fazer: Teoria e prática em educação popular. Petrópolis/RJ: Ed. VOZES, 2005.
 
 
BECKER, Fernando; MARQUES, Tania B. I. Ser professor é ser pesquisador. Porto Alegre/RS: Ed. Mediação, 2010.
 
 
VALENTE, Nelson. Não adapte. Adote. O livro do professor: Fundamental, médio, superior e pós-graduação, história da educação, atos legais, didática e prática de ensino. São Paulo/SP: Ed. INTERMEDIAL, 2007.
 
 
SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A criança na faze inicial da escrita: A alfabetização como processo discursivo. Campinas/SP: Ed. CORTEZ, 1993.
 
 
WERNECK, Hamilton. Se você finge que ensina eu finjo que aprendo. Petrópolis/RJ: Ed. 1992.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Pronto ou não, lá vamos nós!


RESUMO

Nós professores ajudamos a formar para o mercado de trabalho uma mão de obra qualificada, que tenha conhecimentos suficientes para exercerem suas ocupações, mas, será que é somente isso o que importa?Este ensaio trata sobre o questionamento que o educador se faz quando percebe que necessita de uma prática reflexiva em sala de aula, daí surge dúvidas quanto ao que se fazer. É um texto ideológico com embasamentos teóricos e  que faz a diferenciação entre formação contínua e formação continuada, passa por níveis de formação profissional do professorado e almeja ao menos ser enfático quanto ao ideal  de educação do plano de epistemologia construtivista de Piaget, não tratando exclusivamente dela, bem pelo contrário, chegando à  conclusão que ela é um caminho para tal reflexão plena em sala de aula.


Palavras-chave: Formação Profissional. Formação Contínua. Formação Continuada.


1 INTRODUÇÃO


Em uma conversa totalmente informal a caminho da Feira do Livro de Porto Alegre, com um grande amigo e filósofo Levy Oliveira, comentei que teria que escrever um trabalho científico, tendo como tema principal a “formação continuada do educador”, e, fui indagado pelo mesmo. Ele questionou-me sobre o que seria necessariamente, na prática, tal formação? Qual a diferença, entre formação continuada e formação contínua do professorado? Se, teria alguma ligação, entre os conceitos de pesquisador stricto sensu e o pesquisador lato sensu? Ser pesquisador, em qualquer sentido, pode conceituar tal aprimoramento?

Responder tais indagações será meu objetivo principal, mas, contextualizarei e problematizarei tais dúvidas ou minimamente esforçar-me-ei ao máximo para atingir o objetivo almejado.

Partindo do pressuposto que todo professor tem o dever, de ser um eterno curioso e “insatisfeito”, significando, não um ressentimento, e sim uma visão de um ser sempre inacabado, em eterno desenvolvimento e aperfeiçoamento, apesar de algumas habilidades cognitivas já desenvolvidas, buscando sempre sair da zona de conforto, esta “insatisfação” o motivará para nunca estagnar, assim como o educando, o educador tem que compreender-se como um sujeito epistêmico; sujeito que constrói o conhecimento.

Para iniciar, sinto a necessidade de falar sobre as etapas da formação de um educador, desde o inicio de sua educação profissional, explicar quais são os níveis de formação formal que devem ser atingidos para estar “apto” a assumir uma classe escolar, conseqüentemente, não farei maiores  considerações a sua educação básica.

Assim, a partir de uma prática simulada começarei a expor a formação inicial de um professor, comentarei o perfil esperado do profissional, a importância efetiva da eterna atualização e a responsabilidade no pacto firmado no momento da escolha da profissão: Educador.


2 FORMAÇÃO INICIAL


Como o nome já diz, é o início da formação do educador, sendo de nível superior como a Graduação de Nível Superior na modalidade (Licenciatura). Segue texto extraído de decreto do Congresso Nacional e sancionado pelo ainda então Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva:

[...] Parágrafo único.  A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como fundamentos:
I – a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho;
II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço;
III – o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades. (Lei 12.014, 2009)

Creio que seja unânime a perspectiva, que tal formação, é o mínimo esperado, de um profissional da área da educação. Dado que ela não garante efetivamente uma docência plena, mas, confiaria a uma pessoa, a responsabilidade de formar cidadãos ativos em sua cidadania, sem a garantia que ao menos uma mínima parcela de conhecimentos didáticos e metodológicos a embasassem.

Fernando Becker (2010, p. 12), almejando sistematizar a necessidade de produções acadêmicas dos educadores de sala de aula, definiu o professor como sendo:

[...] alguém que elabora planos de atividades, aplica metodologias, reproduz conteúdos, interpreta esses conteúdos, observa comportamentos e avalia processos. Assim como o cientista no laboratório, ele inventa e implementa ações que produzem novos fenômenos cognitivos, avalia os fenômenos observados, cria novas compreensões desses fenômenos. Ele põe a prova conhecimentos existentes. [...]


Está etapa da formação é fundamental ao meu entender, pois, disponibiliza uma visão geral do professorado, que dará um suporte conciso e vigoroso para a práxis educacional do profissional no futuro.

Entendo que um graduado é literalmente, um pesquisador que não é especialista em uma ramificação específica do objeto de estudo, mas, devido a sua natureza pesquisadora terá sempre em vista a busca pela solução de algum “problema” metodológico ou de outro cunho profissional. Causando um estudo extremamente reflexivo em sua sala de aula, exercendo plenamente sua profissão.

[...] é evidente que os métodos serão muito diferentes se desejarmos formar uma personalidade livre ou um indivíduo submetido ao conformismo do grupo social a que ele pertence [...] distinguir aqueles que favorecem a autonomia da consciência e aqueles que conduzem ao resultado inverso [...] (Becker, 2010, p.18 apud Piaget, 1996, p.1).


2.1 FORMAÇÃO CONTÍNUA OU CONTINUADA?
           
            A formação continuada e a formação contínua do magistério são um esforço e comprometimento com a profissão. O indivíduo que gostaria de ser valorizado como profissional competente compreende que além dos objetivos em sala de aula, a profissão exige certas funções não discriminadas em seu contrato de trabalho, mas que fazem parte indispensável da ocupação. Como por exemplo, um médico estuda 6 anos em sua formação inicial e ainda tem mais dois anos de residência, ou o advogado que mesmo estudando 5 anos tem que preparar-se para uma segunda espécie de concurso vestibular correndo o risco de reprovação e assim não conseguindo exercer plenamente sua função (OAB). Assim, como a medicina ou o direto tem pré-requisitos de formação ou avaliação, o magistério tem  a formação continuada e contínua como fundamentais e indispensáveis para a ocupação, visando um aprimoramento permanente devido à responsabilidade gigantesca que o educador é exposto diariamente com seu educando.

            Esta ocupação tem um dever  profissional e vocacional, onde tais requisitos caminham juntos apoiando-se entre si, saciando a cerca do possível, deficiências existentes. Nós educadores temos que transpor tal obstáculo para que, certos déficits cognitivos de nossa parte, sejam superados a partir do conhecimento que é gerado por pesquisas sérias e comprometidos efetivamente com o desenvolvimento cognitivo e afetivo do educando. Não sou ingênuo ao ponto de acreditar que sanaremos todas as nossas deficiências um dia, mas estaremos em constante e permanente evolução.

            Acredito que, as formações contínuas e continuadas, ambas têm os objetivos que visam o aprimoramento e atualização do educador, mas, são diferentes onde a primeira nos dá idéia que é  informal, pode ser infinita e de sentido amplo se desejado e a segunda nos dá por sua vez a idéia de finito, de sentido estrito e formal. A formação contínua tem um grande diferencial, que creio ser fundamental, que é realmente o constante aproveitamento pleno de todas as interações sociais do indivíduo, ou seja, entendo-a como formação de hipóteses de todas as experiências vividas. Uma também completa a outra, caminham juntas e de mãos dadas em direção ao aperfeiçoamento e problematizando sempre “convicções” educacionais, pré-estabelecidas, que devem sempre sofrer mutações constantemente, embasadas que a sociedade esta sempre reformulando valores e prioridades, “uma criança não é igual a outra”, como diz minha professora Viviane Roncato.

            Um ótimo exemplo de aperfeiçoamento profissional foi uma melhor aceitação do professorado e implantação em algumas instituições de ensino à proposta democrática de educação, onde gerou um grande equívoco por parte dos educandos, segundo Werneck (1996, p. 29):

 “[...] Os alunos, diante de novas propostas, logo imaginam ser a democracia um regime capaz de banir, em princípio, a obrigatoriedade de assistência as aulas. Se houve em passado recente uma imposição, não será o escancaramento das portas com pintura de irresponsabilidade a marca de uma reforma do tempo. [...]”

            E tal postura por parte do magistério, somente deu-se por uma análise criteriosa, de entender que democracia não é anarquia ou libertinagem e sim um consenso de ideias contrárias, liberdade de expressão, igualdade social e voz ativa do indivíduo na tomada de decisões.

            A formação continuada tem um perfil formal, pesquisas de stricto sensu (sentido estrito) ou lato sensu (sentido amplo), com a primeira sendo representada por mestrados, doutorados, pós-doutorados e a segunda por pós-graduações como cursos de especialização ou cursos de extensão de nível superior, também temos esta formação continuada em encontros acadêmicos, como seminários, fóruns, colóquios, reuniões pedagógicas e etc...  Todo aquele estudo direcionado para uma ramificação específica do objeto de estudo, eu considero-a, como formação continuada, pois, ela segue uma metodologia Cartesiana, sendo intenciolizada sempre e sendo comprovada a partir de certificados ou diplomas de participação. Tem um caráter finito.

            Já, a formação contínua tem um perfil informal, caracterizado pelo interesse do professor, não visando um diploma ou certificado e, sim, aquele que visa tornar-se cada vez mais proficiente em sua plenitude na sua busca por uma evolução. Ela está presente em todos os momentos, na leitura de um livro, jornal ou revista, ao assistir televisão, em uma conversa despretensiosa. Não precisa, necessariamente, ser direcionada ou intencionalizada para o objeto de estudo, podendo correr o risco de ser tratada como conhecimentos gerais por ter este sentido amplo de pesquisa, mas, sendo somente e não menos importante, uma análise crítica a partir de seus preceitos culturais. O diferencial deste estudo é absorver sem preconceito todas as ideias expostas em qualquer tipo de interação social, internaliza-las, para uma análise mais minuciosa, posteriormente, externaliza-las, com hipóteses já formadas e solidificadas.

            Se pararmos para analisá-las perceberemos que ambas tem um único objetivo, que seria aperfeiçoamento profissional e pessoal, então entenderemos que elas trabalham juntas e nunca poderiam ser separadas, não no sentido de caracterizá-las como foi proposto anteriormente, mas sim, de individualiza-las no processo permanente de aperfeiçoamento, pois, somente com uma análise criteriosa formularemos hipóteses perante algo, ou seja, somente será possível o aproveitamento pleno da formação continuada se a formação contínua estiver introduzida no processo. Podem me perguntar por que tentar diferenciar formação continuada de formação contínua, neste exato momento me aproprio de uma expressão muito marcante que Jean Piaget utilizava em muitas palestras  a respeito de quem quer explicar aquilo que já sabe: “on sait déjà, mais il faut en trouver les raisons”, traduzido literalmente para nosso português será: “nós já sabemos, mas temos que encontrar as razões”.

A psicologia nas décadas de 1930 a 1950 e o percurso intelectual de Piaget e Wallon. – ‘Si rupture il y a à l'époque, elle doit plutôt être attribuée à l'impact de la conception évolutionniste sur la psychologie. D'une part, en effaet, la proclamation darwinienne de l'animalité de l'homme (postulat d'ascendance commune) et la définition de la seule contingence comme moteur de l'évolution devait conduirela psychologie sur la voie de la radicalisation de la thèse empiriste et l'orienter vers le behaviorisme. Certes, on s'est plu à voir en Darwin le fondateur de la psychologie comparée ou même encore celui de la psychologie de l'enfant mais c'est surtout la psychologie du comportement, le beahaviorisme, qui s'est nourrie du darwinisme en transposant le mécanisme darwinien de l'évolution des espèces au niveau de l'évolution des comportements chez un individu: l'environnement sélectionne les comportements comme il sélectionne les phénotypes. Cette perspective a connu les succès que l'on sait.’ (Debate Piaget e Wallon – Contextualização Geral das Controvérsias: Cap. 1,  p. 33 a 51 - Mengal, 1988: 488)


            Piaget intencionava promover o debate, a discórdia, a controvérsia, no sentido de que a discussão fosse proveitosa para o aprendizado e para se chegar ao um denominador comum.

2. 1. 1 Análise da prática simulada

            Propusemos  uma dinâmica de pergunta e resposta, foi avaliada a idéia que a nova geração de educadores faz quanto ao aperfeiçoamento permanente do professorado, tentei observar se tal requisito realmente seria colocado em prática de sala de aula.

            Escutei vários relatos sobre formações continuadas mensais, onde coordenadores pedagógicos, não atualizavam sua equipe, mas sim, somente teriam uma reunião administrativa, onde abordam temas financeiros e estruturais da instituição de ensino. Isto me deixou muitíssimo preocupado com o futuro brasileiro, pois, os responsáveis e digamos “melhores preparados” para a eterna formação, sem querer generalizar, não teriam preparo e tão menos engajamento com o ideal pedagógico normativo de nossa profissão?

            Também, recebi respostas que vieram se contrapondo com as anteriores e fiquei muito surpreso com certos colegas professores. Pois, mesmo com a desmotivação e desvalorização em que o magistério passa no momento, escutei argumentos realmente esperançosos, ideológicos e quem sabe funcionais, estou extremamente feliz por perceber que esta utopia momentânea devido à realidade atual, tem os dias contados. A nova visão que é passada em cursos de formação inicial do professorado tem um caráter explicitamente adequado à nova visão revolucionária da área da educação.

            Realmente, sei que é difícil uma eterna caminhada, mas a desmotivação não pode nublar a paisagem de nossos ideais, pois, estudamos, nos aplicamos e trabalhamos com o foco em formar cidadãos realmente ativos em sua cidadania e com o mesmo apelo que Werneck (1996, p. 87) encerra seu ensaio concluo esta reflexão.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreendi que a prática reflexiva em sala de aula, inicialmente proposto como tema, nos remete a questões muito mais amplas e complexas, pois, para atingir este objetivo metodológico básico da ocupação, teremos de abdicar de certos conceitos formados e de momentos de lazer, e focarmos quase que exclusivamente nossas reflexões profissionais para a práxis educacional.

Por mais que tenhamos uma concepção de aprendizagem conteudista e superficial, em pleno século XXI, não é admissível tal postura. Entretanto, não serei hipócrita em afirmar que o plano da epistemologia construtivista de Piaget é aplicado plenamente nas instituições de ensino do território nacional.

Com este ensaio acredito ter conseguido somar e aprender certas questões pertinentes em relação ao nosso cunho profissional, embasado em experiências próprias e de colegas. Acredito ter motivado a pesquisa, plantando uma sementinha de curiosidade em cada leitor deste trabalho acadêmico e se render frutos futuros, sentir-me-ei pleno.

Espero que compreendam que este é apenas o início do debate da matéria; não o meio e tampouco o fim. Haverá discórdias de minhas ideias, de minhas teorias. Este é o objetivo: promover o debate. Sejamos ativos em nossa profissão. Pesquisamos sempre e coloquemos em prática tal hipótese aqui formulada. Divulgamo-las para disseminar aquela sementinha... Formemos e ajudemos outros professores a formarem alunos realmente humanos.


REFERÊNCIAS


BRASIL. Ministério da Educação. Educação inclusiva: a família. ARANHA, Maria Arruda. Brasília: MEC, SEESP, 2004. 4 p.

BRASIL. Ministério da Educação. Saberes e práticas da inclusão: recomendações para a construção de escolas inclusivas. [2. ed.] / coordenação geral SEESP/MEC. – Brasília: MEC, Secretaria de Educação Especial, 2006.

PIAGET, Jean - Debate Piaget e Wallon – Contextualização Geral das Controvérsias: Cap. 1,  p. 33 a 51 - Mengal, 1988: 488).

BECKER, Fernando; Marques, Tânia B. I. Ser professor é ser pesquisador. Porto Alegre/RS: Ed. Mediação, 2010.

WERNECK, Hamilton. Se você fingi que ensina eu finjo que aprendo. Petrópolis/SP: Ed. Vozes, 1996.

QUINN, Patrícia O.; STERN, Judith M. PISANDO NO FREIO – entenda e controle o déficit de atenção e a hiperatividade. São Paulo/SP: Ed. Artmed, 2010.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Poema do Aprendiz

Quero ser o teu amigo.
Nem demais nem de menos.
Nem tão longe nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.

Mas amar-te, sem medida,
e ficar na tua vida
da maneira mais discreta que souber.

Sem tirar-te a liberdade.
Sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar quando for hora de calar,
e sem calar, quando for hora de falar.

Nem ausente nem presente por demais,
simplesmente, calmamente ser-te paz...

É bonito ser amigo.
Mas, confesso, é tão dificil aprender!
E por isso
eu te suplico
paciência!

Vou encher este teu rosto
de lembranças!
Dá-me tempo
de acertar nossas distâncias!

Quero ser o teu amigo.
Sem tirar-te a liberdade.
Sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.


Autor Desconhecido

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Visão da sociedade



Em meados dos anos 60 o professorado era considerado uma das melhores e mais honradas profissões; por exemplo: em uma cidade pequena do interior do Rio Grande do Sul o professor era uma autoridade municipal. Assim como o delegado regional ou o prefeito. Agora me pergunto: o que mudou? Como o magistério é visto na atualidade e qual seria nossa expectativa e importância no futuro?
Priorizarei tentar responder ou ao menos colocar em pauta e trazer a baila estas dúvidas, que acredito serem extremamente pertinentes a problematização do assunto.
Como já dito antes, o professor era importantíssimo e valorizado na progênie da ocupação e foi vulgarizado ou até mesmo prostituído com o passar dos anos. No meu ponto de vista, que pode vir a ser considerado radical, agressivo e prepotente, acredito que a culpa inicial em parte é nossa; que depois vieram por consequência desencadear uma série de motivos políticos, econômicos e sociais para a desvalorização de nossa profissão. Até mesmo com a falta de atualização dos docentes; como técnicas de marketing pessoal, a aceitação de que somos manipuladores por essência, pois, conduzimos nossos alunos a adquirir no mínimo conteúdos predeterminados. Por outro lado, também somos mediadores de conflitos, conselheiros, amigos e temos que aceitar e abraçar esta causa sem ressalvas.
Creio que a abertura democrática de nosso país fez com que muitos de nós não entendêssemos o que democracia e liberdade realmente significam e as transformamos em permissionismos, que por sua vez se tornaram em anarquia, não no sentido ideológico e poético, mas sim, na inexistência de todo e qualquer limite, acarretando uma nítida e equivocada perda de senso hierárquico e de disciplina, causando a desvalorização de várias ocupações.
Em nossas escolas notamos esta postura vinda de nossos alunos e dos pais dos mesmos, que deixam em nossas mãos a aprendizagem e a educação. Esquecem que são pais, abrem mãos de momentos únicos com seus filhos por uma ambição capitalista desvairada, pois, cresceram e adquiriram essa ideologia na sua formação e assim, sucumbem formando gerações tal qual a anterior. Entendo que a problemática antecede nossa geração. E nós também fomos criados dessa forma. Despreende-se que é uma luta ferrenha e algoz pelo caminho...
Se partirmos do pressuposto de que moldamos nossos alunos para chegar ao ponto “X”, por quê não levá-los ao ponto “X+1”? Ou seja, depende única e exclusivamente de nós docentes, trabalharmos muito visando a formação de cidadãos ativos em sua cidadania, valorizando a qualidade de tudo e não a quantidade. Esse trabalho inicia-se na educação básica do indivíduo e os frutos serão colhidos posteriormente no ensino acadêmico. Sei que quebrar esse paradigma será difícil, mas, é o papel do magistério.
Para iniciarmos tal mudança precisamos de maior empenho. Temos que ser vaidosos e ambiciosos, de forma moderada e coerente, porém ferrenhos, abdicarmos de mediocridade e aceitarmos nossa grandiosidade como profissionais da área, perante a formação de uma nova sociedade. Assim, assumiremos nosso papel de destaque e também nossas responsabilidades, pois é “dando a cara à tapa” que iniciaremos tal movimento, como disse Willian G. Carr apud José M. Britto (2009):
“[...] Peço-lhe que pare de ficar se desculpando por ter a profissão mais importante do mundo”.
Provavelmente muitos de nós interpretaremos como fanfarrice este meu ensaio, mas, podem ter a mais plena certeza, que é o início de uma linda caminhada.
E, para concluir, deixo uma citação de Jean Piaget apud David Elkind (1978, p. 36):
“O grande homem que, em qualquer época, parece estar lançando alguma nova linha de pensamento é simplesmente a interseção ou síntese de ideias que foram desenvolvidas e apuradas por um processo contínuo de cooperação”.

REFERÊNCIAS

ELKIND, David. Desenvolvimento e educação da criança: Aplicação de Piaget na sala de aula. Ed.Zahar Editores. Rio de Janeiro, 1978.
BRITTO, José Mário. Sugestões de práticas educativas remodeladas para um mundo digital. ULBRA. Porto Alegre, 2009.